Mostrando postagens com marcador São Bernardo de Claraval. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador São Bernardo de Claraval. Mostrar todas as postagens

A CRUCIFICAÇÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO NA VISÃO DE UM MÉDICO

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e texto

O doutor Pierre Barbet, cirurgião do Hospital de São José, em Paris, é quem fez, até agora, o estudo médico mais completo da Paixão de Cristo, conforme se deduz do Santo Sudário (Cf. La Passione di N. S. Gesu Cristo secondo el chirurgo, L. I. C. E. Torino). Leia seu relato:

“Sou um cirurgião, e dou aulas há algum tempo. Por treze anos vivi em companhia de cadáveres e durante a minha carreira estudei anatomia a fundo.

Posso, portanto escrever sem presunção a respeito de morte como aquela.

Jesus entrou em agonia no Getsêmani e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra. O único evangelista que relata o fato é um médico, Lucas. E o faz com a precisão de um clínico. O suar sangue, ou “hematidrose”, é um fenômeno raríssimo. É produzido em condições excepcionais: para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo. O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus.

Tal tensão extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra. Conhecemos a farsa do processo preparado pelo Sinédrio hebraico, o envio de Jesus a Pilatos e o desempate entre o procurador romano e Herodes. Pilatos cede, e então ordena a flagelação de Jesus. Os soldados despojam Jesus e o prendem pelo pulso a uma coluna do pátio. A flagelação se efetua com tiras de couro múltiplas sobre as quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos. Os carrascos devem ter sido dois, um de cada lado, e de diferente estatura. Golpeiam com chibatadas a pele, já alterada por milhões de microscópicas hemorragias do suor de sangue. A pele se dilacera e se rompe; o sangue espirra. A cada golpe Jesus reage em um sobressalto de dor. As forças se esvaem; um suor frio lhe impregna a fronte, a cabeça gira em uma vertigem de náusea, calafrios lhe correm ao longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia em uma poça de sangue. Depois o escárnio da coroação. Com longos espinhos, mais duros que os de acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de capacete e o aplicam sobre a cabeça. Os espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem o quanto sangra o couro cabeludo).

Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado à multidão feroz, o entrega para ser crucificado. Colocam sobre os ombros de Jesus o grande braço horizontal da Cruz; pesa uns cinqüenta quilos. A estaca vertical já está plantada sobre o Calvário. Jesus caminha com os pés descalços pelas ruas de terreno irregular, cheia de pedregulhos. Os soldados o puxam com as cordas. O percurso é de cerca de 600 metros. Jesus, fatigado, arrasta um pé após o outro, freqüentemente cai sobre os joelhos. E os ombros de Jesus estão cobertos de chagas.

Quando ele cai por terra, a viga lhe escapa, escorrega, e lhe esfola o dorso. Sobre o Calvário tem início a crucificação. Os carrascos despojam o condenado, mas a sua túnica está colada nas chagas e tirá-la produz dor atroz. Quem já tirou uma atadura de gaze de uma grande ferida percebe do que se trata. Cada fio de tecido adere à carne viva: ao levarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas em descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento. Há um risco de toda aquela dor provocar uma síncope, mas ainda não é o fim. O sangue começa a escorrer.

Jesus é deitado de costas, as suas chagas se incrustam de pé e pedregulhos.

Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz. Os algozes tomam as medidas.

Com uma broca, é feito um furo na madeira para facilitar a penetração dos pregos. Os carrascos pegam um prego (um longo prego pontudo e quadrado), apoiam-no sobre o pulso de Jesus, com um golpe certeiro de martelo o plantam e o rebatem sobre a madeira. Jesus deve ter contraído o rosto assustadoramente. O nervo mediano foi lesado. Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos ombros, atingindo o cérebro. A dor mais insuportável que um homem pode provar, ou seja, aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos: provoca uma síncope e faz perder a consciência. Em Jesus não. O nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece em contato com o prego: quando o corpo for suspenso na cruz, o nervo se esticará fortemente como uma corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada movimento, vibrará despertando dores dilacerantes.

Um suplício que durará três horas. O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam Jesus, colocando-o primeiro sentado e depois em pé; consequentemente fazendo-o tombar para trás, o encostam-se à estaca vertical.

Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da cruz sobre a estaca vertical. Os ombros da vítima esfregam dolorosamente sobre a madeira áspera. A ponta cortante da grande coroa de espinhos penetram o crânio.

A cabeça de Jesus inclina-se para frente, uma vez que o diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na madeira. Cada vez que o mártir levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudas de dor. Pregam-lhe os pés. Ao meio-dia Jesus tem sede. Não bebeu desde a tarde anterior. Seu corpo é uma máscara de sangue. A boca está semiaberta e o lábio inferior começa a pender. A garganta, seca, lhe queima, mas ele não pode engolir. Tem sede. Um soldado lhe estende sobre a ponta de uma vara, uma esponja embebida em bebida ácida, em uso entre os militares. Tudo aquilo é uma tortura atroz. Um estranho fenômeno se produz no corpo de Jesus. Os músculos dos braços se enrijecem em uma contração que vai se acentuando: os deltóides, os bíceps esticados e levantados, os dedos, se curvam. É como acontece a alguém ferido de tétano. A isto que os médicos chamam tetania, quando os sintomas se generalizam: os músculos do abdômen se enrijecem em ondas imóveis, em seguida aqueles entre as costelas, os do pescoço, e os respiratórios. A respiração se faz, pouco a pouco mais curta. O ar entra com um sibilo, mas não consegue mais sair. Jesus respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena crise, seu rosto pálido pouco a pouco se torna vermelho, depois se transforma num violeta purpúreo e enfim em cianítico. Jesus é envolvido pela asfixia.

Os pulmões cheios de ar não podem mais se esvaziar. A fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita.Mas o que acontece? Lentamente com um esforço sobre-humano, Jesus toma um ponto de apoio sobre o prego dos pés. Esforça-se a pequenos golpes, se eleva aliviando a tração dos braços. Os músculos do tórax se distendem. A respiração torna-se mais ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a palidez inicial. Por que este esforço? Porque Jesus quer falar: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Logo em seguida o corpo começa afrouxar-se de novo, e a asfixia recomeça. Foram transmitidas sete frases pronunciadas por ele na cruz: cada vez que quer falar, deverá levar-se tendo como apoio o prego dos pés. Inimaginável! Atraídas pelo sangue que ainda escorre e pelo coagulado, enxames de moscas zunem ao redor do seu corpo, mas ele não pode enxotá-las. Pouco depois o céu escurece, o sol se esconde: de repente a temperatura diminui. Logo serão três da tarde, depois de uma tortura que dura três horas.

Todas as suas dores, a sede, as câimbras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, lhe arrancam um lamento: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?”. Jesus grita: “Tudo está consumado!”. Em seguida num grande brado diz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. E morre. Em meu lugar e no seu.”

Por Dr. Barbet (médico francês)

ORAÇÃO À CHAGA DO OMBRO DE JESUS:

Nas Atas do convento de Claraval (França) lêem-se estas palavras: São Bernardo perguntou ao Divino Salvador qual tinha sido a maior de suas dores desconhecida dos homens.

Jesus lhe respondeu:

Eu tinha uma Ferida no Ombro, em que havia carregado a Cruz, e esta Ferida era mais dolorosa que as outras.Os homens não fazem menção dela, porque é desconhecida. Honrai-a, pois, e Eu vos concederei tudo o que me pedires por sua virtude. Todos aqueles que a venerarem, obterão a remissão dos seus pecados veniais e graças eficazes para conseguirem o perdão dos pecados mortais que tiverem cometido.

Oração:

Oh! bom Jesus, Senhor e Redentor meu, que carregastes a pesada Cruz de todos os pecados do Mundo e também os meus; pelos méritos da Chaga e dor que tal Cruz rasgou no vosso Ombro, eu Vos peço humildemente o arrependimento e perdão de todas as minhas culpas e a graça de morrer sem pecado.

E lembrando o auxílio que vos deu Simão Cireneu, aliviando o peso da vossa Cruz, peço-Vos ainda, em virtude da Chaga do vosso Ombro, que foi a mais escondida do vosso sacrifício redentor, que susciteis no mundo muitas almas vítimas, a continuarem nelas a vossa Paixão, e, pela generosidade do seu holocausto, suportando com amor heróico, resgatem muitos pecadores, salvem muitos moribundos, e atraiam sobre a Terra uma chuva da Caridade e Pureza. Amém.

Rezam-se sete Ave-Marias e acrescenta-se: "Minha Mãe Santíssima imprimi em meu coração as Chagas de Jesus Crucificado" (Indulgência de 300 dias cada vez)

"Oh! dulcíssimo Jesus, não sejais meu juiz, mas meu Salvador (Indulgência de 100 dias cada vez)
Compartilhar:

EXPLICAÇÃO SOBRE A SALVE RAINHA

A imagem pode conter: 3 pessoas

A Salve Regina é uma lembrança da antiga França. Atribui-se ao bispo de Puy, Adhemar de Monteuil, membro do Concílio de Clermont, onde foi resolvida a primeira Cruzada. Adhemar seguiu a Cruzada na qualidade de legado apostólico e compôs a Salve Regina para que se tornasse o canto de guerra dos cruzados. A princípio, a antífona acabava por estas palavras: nobis post hoc exilium ostende. A tríplice invocação que a termina presentemente foi acrescentada por São Bernardo, e merece ser narrado como se fez.

Na véspera do Natal do ano de 1146, S. Bernardo, mandado para a Alemanha como legado do Papa, fazia sua entrada solene na cidade de Spire, depois de uma viagem memorável na qual os milagres foram numerosos. O bispo, o clero, os cidadãos todos, com grande pompa vieram ao encontro do santo e conduziram-no, ao toque dos sinos e dos cânticos sagrados, através da cidade até a porta da capital, onde o imperador e os príncipes germânicos o receberam com todas as honras devidas ao legado do Papa.

Enquanto o cortejo penetrava no recinto sagrado, o coro cantou a Salve Regina, antífona predileta do piedoso abade de Claraval. Bernardo, conduzido pelo imperador em pessoa e rodeado da multidão do povo, ficou profundamente comovido com o espetáculo que presenciara. Acabado o canto, prostrando-se três vezes, Bernardo acrescentou de cada vez uma das aclamações, enquanto caminhava para o altar sobre o qual brilhava a imagem de Maria: O clemens! O Pia! O dulcis Virgo Maria! (Ó clemente! Ó piedosa! Ó doce Virgem Maria!)

(“Maria ensinada à mocidade” – Livraria Francisco Alves, Rio, 1915)

A Salve Rainha é uma oração bem antiga, e que tem uma estrutura impressionantemente lógica.

Poderíamos esquematizá-la nos seguintes tópicos:

1- Introdução, invocando a Virgem Maria como soberana Mãe de Deus e nossa;

2- Exposição de nossas necessidades espirituais;

3- Apresentação de nosso pedidos.

4- Saudação final.

A Salve Rainha principia, então, - como é necessário e conveniente - com a invocação da Virgem Maria, citando alguns de seus atributos:

"Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve!"

Assim como a "Ave Maria", a "Salve Rainha" saúda a Virgem Maria com o brado de "Salve", recordando que ela também, embora a mais alta de todas as criaturas, foi salva por Cristo, isto é, que todos os seus privilégios, dons e graças lhe foram concedidos na previsão dos méritos infinitos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Salve Rainha...

O primeiro título que damos a Maria nessa oração é o de Rainha. Fazemos isso para como que forçá-la a nos ajudar, já que ela tem todo o poder no céu e na terra. Só Deus é onipotente. Mas Cristo quis dar a Ela a onipotência suplicante. O que Ela Lhe pedir, Ele lho concederá, pois Cristo nada recusa à sua divina Mãe.

É o que ficou provado em Caná da Galiléia.

É o que ficou ainda mais provado, quando Ela pedia a Deus que mandasse à terra o Messias Salvador: sua oração foi tão poderosa, que alcançou que Deus se encarnasse:

"Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo", disse-lhe o anjo. E disse-lhe mais: "Não temas Maria, porque achaste graça diante de Deus" (Luc. I, 28-29).

Maria é a Rainha dos anjos e dos santos , pois é Mãe de Deus, soberano absoluto. Mas nem tanto adiantaria, para nós, que Maria fosse Rainha do céus e da terra, se Ela não fosse também nossa Mãe, e Mãe plena de Misericórdia. Que nos adiantaria ser Ela nossa Mãe, se não tivesse poder? E de que adiantaria ter poder, se não fosse também nossa Mãe?

Mãe de Misericórdia...

E o segundo de seus títulos que é lembrado é que ela é nossa Mãe de Misericórdia.

E isto de dois modos: em primeiro lugar, porque, sendo a Virgem Maria, a Mãe de Jesus Cristo, nosso Divino Redentor, ela é realmente a Mãe da Misericórdia, já que Cristo se encarnou por Misericórdia de nós, pobres mortais.

Os anjos e os homens podem ter a virtude da misericórdia, mas Cristo é A Misericórdia, pois que é Deus, e, em Deus, todas as qualidades e virtudes existem em grau infinito. Deus é A Bondade, A Justiça, A Misericórdia, A Beleza, por excelência, enquanto as criaturas apenas podem ter essas qualidades em graus maiores ou menores, mas não são essas qualidades.

Em segundo lugar, Nossa Senhora é Mãe de Misericórdia, porque ela é a criatura que possui essa qualidade no mais alto grau possível, para uma criatura, e porque, sendo nossa Mãe, ela, como modelo de todas as mães, não pode deixar de ter compaixão de nós, que somos seus filhos, por nossas misérias e fraquezas.

Vida...

A seguir se lhe diz que ela é vida.

Como dissemos, somente Deus é A Vida. Jesus, filho de Maria, disse de Si mesmo: "Eu sou o Caminho a Verdade e a Vida" (Jo. XIV, 6). Deus é que nos concedeu a vida, que só Ele é. Mas, no mistério da encarnação do Verbo, Maria Virgem teve o privilégio de conceber, em seu seio virginal e puríssimo, por obra do Espírito Santo, o Verbo de Deus encarnado. Ela foi a Mãe de Deus, a mãe dA Vida. E mãe é aquela que dá a vida. Maria deu vida à Vida, assim como ensinou o Verbo de Deus a falar. Ela deu vida a Cristo, enquanto homem, a Ele que era A Vida, em Deus. Ela ensinou Cristo a falar, a Cristo, Verbo de Deus, enquanto homem. Ela deu palavra àquele que era a Palavra infinita, em Deus, enquanto Deus.

Nossa Senhora é chamada ainda de "vida" porque só por meio dela recebemos a vida da graça em nossas almas.

Deus poderia ter vindo ao mundo por muitos meios. Ele, Sabedoria infinita,- nos ensina São Luis Maria Grignion de Montfort - Ele escolheu o melhor meio, o mais sábio, o mais perfeito, o mais curto de todos os caminhos, para vir a este mundo. E esse caminho melhor, o mais perfeito, o mais sábio e o mais curto, foi vir até nós por meio da Virgem Maria, encarnando-se em seu seio.

Cristo é A VIDA, e veio para nos dar vida. Nos dar a vida da graça, que é participação na vida infinita da Santíssima Trindade. Porque, no universo criado, há seres que têm graus diversos de vida. As plantas têm vida apenas vegetativa. Os animais têm vida com mobilidade e sensações. Os homens têm vida racional. Os anjos, seres puramente espirituais, têm vida mais elevada que a humana, pois que a sua vida angélica é vida puramente espiritual. Deus é a VIDA.

Deus livremente quis nos comunicar uma participação em sua Vida divina, isto é, elevar-nos a uma Vida mais alta que a vida angélica, vivendo Ele, em nossas almas, por meio da graça santificante. Essa participação na Vida divina se faz pela graça habitual, ou graça santificante, que recebemos no Batismo, instituído por Cristo. O Batismo nos perdoa o pecado original, nos faz membros da Igreja, herdeiros do céu, e filhos adotivos de Deus, participantes de sua Vida infinita. Pelo batismo, somos capazes de ser como Deus, e tendo méritos infinitos.

Assim como o ferro posto no fogo adquire qualidades do fogo - luz e calor - continuando a ser simples ferro, assim nós, pelo Batismo, adquirimos qualidades divinas, continuando a ser puramente humanos. Ora, essa vida divina que recebemos no Batismo, pela aplicação dos méritos infinitos da redenção de Cristo, na Cruz, nós só pudemos obtê-la, porque Maria Santíssima aceitou ser Mãe de Deus encarnado, Mãe da Vida. Portanto, só participamos da Vida divina por causa de Nossa Senhora, que foi o meio que Deus quis usar para vir ao mundo, para nos salvar. Maria é, pois, a causa instrumental de nossa vida mais alta e mais perfeita, que é a vida sobrenatural, que nos foi obtida por Cristo. Por isso, nós a chamamos de vida, na Salve Rainha, porque toda nossa vida sobrenatural, que nos foi dada por Cristo, chegou até nós pelo canal de Maria.

Assim como é o sol que nos permite ver, a luz de Deus, A Verdade, Cristo, sol de Deus, só chegou até nós por Maria. O olho humano foi feito para a luz, para o sol, mas não consegue contemplar diretamente o sol. A alma humana foi feita para ver a luz de Deus, para a Verdade, mas não nos é possível ver ou compreender Deus.

Por isso, a Idade Média inventou o vitral que permite ao olho humano contemplar o sol sem ser ferido por sua luz esplendorosa, e ver a luz do sol plena de cores.

Assim também, Deus quis vir até nós por meio do vitral que é a Virgem Maria, e nós que não podíamos ver a Deus, fomos capazes de vê-Lo, como um Menino, e Ele era "cheio de graça e de verdade"(Jo. I,14). E assim como a luz passa pelo vitral sem quebrá-lo, assim Deus nasceu de Maria sem que ela perdesse a virgindade. E do mesmo modo que a luz, a mais simples das criaturas, é dividida pelo prisma, e dele ganha beleza, pois que o prisma "explicita" as suas cores, assim Deus que é simplicidade absoluta, colocou todas as suas graças em Maria, que como prisma de Deus, nos reparte as suas graças. Daí Maria ser a Medianeira de todas as graças.

Doçura...

Maria é para todos os homens a doçura.

Chamamos de doce tudo o que nos agrada suavemente. Não só um alimento é doce ao paladar . Há músicas doces aos ouvidos. Há palavras doces ao coração. Há veludos doces ao tato, como há perfumes doces ao olfato. Há movimentos doces de uma gaivota no ar, e é possível existir um andar doce e calmo por alamedas em doces ladeiras. Doce é, sobretudo, a amizade fundamentada na verdade. (E como é amargo perder um amigo que Deus nos deu, afastado por um conselho imprudente e político). Doce é tudo o que é proporcionado aos sentidos. Doce é tudo o que é proporcionado a nós. E nada é tão proporcionado ao ser humano, qualquer seja ele, do que Maria, o ser puramente humano, o mais perfeito que possa existir, porque Cristo, embora homem, é também Deus infinito. Maria é a doçura da humanidade.

Face a Maria Santíssima não temos temor. Ela é nossa Mãe plena de doçura. Por isso São Luís de Montfort lembra que, se Jesus é nosso Redentor e nosso apoio, ela, por ser nossa mãe, será sempre nossa força.

"Vous êtes Vierge Mère,
( Vós sois, ó Virgem Mãe,)

après Dieu mon suport.
(depois de Deus, o meu apoio.)

Je sais qu"íl est mon Père,
(Eu se que Ele é meu Pai,)

mais vous êtes montfort".
(mas vós sois meu forte")

(São Luís de Montfort, canção "Je mets ma confiance" - "Coloco minha confiança").

Esperança...

A Salve Rainha lembra ainda a Nossa Senhora, quando a invocamos, que ela é a nossa esperança. Isso nós dizemos a ela, porque sabemos que ela tudo alcança de Jesus, seu Filho e Deus onipotente. De Deus, que tanto ofendemos, por vezes, temos receio de não mais poder esperar senão castigos. Mas de Maria, nossa Mãe, cheia de misericórdia, esperamos que rogue por nós, evidentemente, não porque ela seja mais bondosa do que Deus, mas porque é natural que a mãe peça por filhos, ainda que maus. Não pediu ela pelos noivos de Caná: "Eles não têm mais vinho"(Jo. II, 3).

E quantas vezes já não temos mais vinho em nossas almas, e só a pedido de Maria, Cristo transmuda nossa água maldosa em vinho de boas obras!

Ela é nossa esperança que a ninguém falece. Por isso São Bernardo nos lembra que, quando tudo está perdido e o barco de nossa alma está prestes a soçobrar, levantemos os olhos, contemplemos Maria. Pois não há pecador que Ela não socorra.

Salve!

Este segundo "salve", encerrando a invocação inicial, é uma confirmação do primeiro "salve" e, ao mesmo tempo, uma exclamação de alegria pelos títulos de Maria Santíssima, que acabaram de ser lembrados, e que nos dão a confiança necessária, a nós pobres pecadores, de recorrer a Mãe tão bondosa quanto poderosa.

2- Apresentação de nossas necessidades espirituais

Finda a invocação, começa a exposição de nossas misérias à Mãe de Misericórdia.

Lembramos a Ela, em primeiro lugar, que somos "exilados filhos de Eva".

"A ti clamamos, exilados filhos de Eva".

Clamamos, não só pedimos. "Clamar" é gritar por um excesso de aflição e de dor. Clama quem está nos extremos da resistência a um mal, e que já não encontra, em si mesmo, as forças necessárias para resistir, e se salvar. Lembramos a Ela que somos "filhos de Eva", isto é, que somos maus, mas que herdamos a culpa original, que nos impele ao mal. Lembramos a Ela - a Ela que foi o oposto de Eva - que nos alcance o bem, quando nossa primitiva mãe terrena nos deu o pecado original. Lembramos a Ela que somos seres humanos como Ela, descendentes de Eva, e que, por isso, Ela é nossa Irmã. E Irmã privilegiada, que não herdou a culpa de Eva. Ela, Imaculada, concebida sem pecado, que tenha pena de seus irmãozinhos concebidos no pecado.

E prosseguimos, dizendo a Maria Santíssima:

"A ti suspiramos, gemendo e chorando, nesse vale de lágrimas".

Lembramos a Maria nossa penosa e miserável situação espiritual, dizendo-lhe que suspiramos pelo bem perdido, gememos pelos justos castigos que merecemos, choramos pela culpa nossa, - culpa toda nossa, nossa máxima culpa - "nesse vale de lágrimas".

Vale de lágrimas, porque todos os prazeres deste mundo são ilusórios, e todos os seus bens são passageiros, e toda a sua glória como a flor do campo. "Secou-se o feno, e caiu a flor" (Is. XL, 7). E nossa vida passa como uma sombra, como o pássaro, que, na noite, atravessa, um momento, a claridade da fogueira. Vale de ilusões, que queremos contemplar irisado por nossas lágrimas doloridas.

Vale de lágrimas, que a mentira da Modernidade quer transformar em Reino de Deus na terra, cultuando o Príncipe deste Mundo, isto é, o antigo e mentiroso Júpiter, deus do universo, e não a "Deus Pai Onipotente, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis".

Visto, então, que Maria é tão poderosa e tão bondosa. Visto também que somos tão miseráveis e tão necessitados filhos dEla, nada mais lógico do que recorrer a Ela, dizendo-lhe a conclusão do raciocínio posto na oração.

3- Apresentação de nosso pedidos.

Essa apresentação é dividida em duas partes.

Primeiramente, rogamos que Nossa Senhora olhe para nós.

"Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei".

Nós a chamamos de advogada nossa. E Ela de fato o é. Advogada significa chamada a ser aquela que fala por nós, que nos defende. Ela, por ser nossa Mãe misericordiosa, está sempre pronta a interceder a Deus por nós, para que nos perdoe. Foi o próprio Deus que a constituiu como nossa advogada, porque o Deus infinitamente misericordioso se compraz em nos fazer misericórdia, atendendo aos pedidos dEla.

Que Ela mesma veja, por si mesma, com seus próprios olhos bondosos, a nossa grande miséria e nossa situação moral terrível.

E, em seguida, lhe pedimos o fundamental, o essencial:

"E depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto de vosso ventre".

Depois de nossa morte, depois da terrível hora de nossa morte, que Ela nos mostre Jesus.

"Mostrai-nos Jesus", isto é, que vejamos a Deus Nosso Senhor em sua glória, Ele que é o fruto bendito do seio virginal de Maria. Que contemplemos, enfim a Jesus, o mesmo Jesus manso e misericordioso para com os pecadores arrependidos, o mesmo Jesus que perdoou a Maria Madalena e ao bom ladrão, e não o Juiz inexoravelmente justo dos pecadores empedernidos.

4- Conclusão

"O clemente , ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria".

Essas três exclamações de amor foram acrescentadas, ao final da Salve Rainha, por São Bernardo, quando entrou na Catedral de Spira, ao pregar a Segunda Cruzada. Porque essa é a verdade histórica: os Santos pregavam Cruzadas e aprovavam as fogueiras inquisitoriais, porque faziam justiça e paz.

Ao pregar a segunda Cruzada em Spira, São Bernardo fez dezenas de milagres, numa só manhã, e, com eles e com sua palavra ardente arrastou a nobreza e o Imperador a se decidirem a partir para a Palestina, a combater os turcos maometanos.

Porque não há amor ao bem sem ódio ao mal. E quem ama, combate.

Como uma tocha ardente de fogo do amor à verdade e ao bem, São Bernardo havia pregado a Cruzada contra o Islam, clamando em Vézelay, citando o Profeta Jeremias:

"Maldito aquele que não ensangüentar a sua espada" (Jer. XLVIII, 10).

Depois, em Spira, tendo conseguido arrastar a nobreza e o Imperador à Cruzada, - o que era mais do que mover montanhas - São Bernardo, entrando na Catedral de Spira ao cântico da Salve Regina, com o coração ardendo em fogo de amor pela Rainha do Céu e da Terra, Ele exclamou, compondo os versos finais, que, desde então, foram acrescentados à essa oração sublime, ajoelhando-se São Bernardo a cada adjetivo que ele cantava à medida que percorria o corredor central da catedral, em direção ao altar-mor:

"Ó Clemens, Ó Pia, Ó Dulcis Virgo Maria".

Na catedral de Spira, três placas de bronze marcam os três lugares em que o Doutor Melífluo se ajoelhou, cantando essas três exclamações da glória de Maria.

Que Ela nos guarde a nós todos, a seu serviço, é o que rogo,

in Corde Jesu, semper, Orlando Fedeli.

NOTA:

APESAR DE NOSSAS RESSALVAS COM RELAÇÃO AO FALECIDO PROFESSOR ORLANDO FEDELI, ESTA EXPLICAÇÃO DELE DE FORMA DETALHADA SOBRE A ORAÇÃO DA "SALVE RAINHA", FOI BASTANTE FELIZ NO SEU ESCLARECIMENTO.
Compartilhar:
Proxima  → Inicio