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LIBERDADE RELIGIOSA, UMA HERESIA NORTE-AMERICANA
As colônias norte-americanas herdaram da Inglaterra seu profundo conservadorismo político, isto é, o desejo de estabilidade e sua oposição visceral à mudança. Mesmo após a independência, a constituição norte-americana continuou sendo tributária dos ideais do iluminismo inglês e das estruturas políticas do passado britânico.
O iluminismo não só constituiu um vasto movimento cultural, mas também “uma nova forma de crer, segundo a qual os homens buscaram acomodar a religião ao mundo moderno”. Na América do Norte o iluminismo dos “Pais fundadores” representou uma amálgama da religião cristã com o espírito secularista norte-americano que estava em desenvolvimento desde a época de Plymouth Rock, um espírito de democracia, de igualdade e rejeição dos privilégios, um espírito de independência, individualismo e liberdade.
Os fundadores da América do Norte anglo-saxônica, os “Pais peregrinos”, eram puritanos que fugiam da perseguição quando, em sua perspectiva, a Inglaterra se apartou do verdadeiro espírito da Reforma. Pensaram que haveria somente um caminho para que os “verdadeiros crentes” pudessem sobreviver: fugir para uma terra virgem, na qual pudessem edificar sua “cidade em cima do monte” uma “Nova Jerusalém”, um lugar seguro para aqueles que desejavam viver retamente. Essa terra era a Nova Inglaterra, e mais, concretamente, a colônia da Bahia de Massachusets.
Como crença religiosa, o puritanismo pregava a depravação completa do homem depois do pecado original, de tal maneira que todas as suas obras e realizações são essencial e irremediavelmente más. A única esperança para a salvação do puritano ficava em um ato pessoal de fé na benevolência de Deus de acolhê-lo nos céus por toda a eternidade, não obstante sua maldade intrínseca.
Convencidos de que Deus predestina os homens ao Céu e ao Inferno, e que nenhuma ação humana pode mudar o resultado do seu destino, interpretou-se que um sinal de sua predestinação à glória estava dado por sua própria fidelidade à palavra e vontade de Deus. Na histérica exaltação que lhes fez conhecer que seu comportamento os havia separado da “Massa dos condenados”, só teve desprezo para com toda alegria sensível e o que qualificava como “vaidade do mundo”, quer dizer, a arte, a literatura, as modas, os jogos, etc.
Movidos por esse “sombrio entusiasmo”, os puritanos estabeleceram na América do Norte um Estado confessional, reproduzindo bastante o modelo medieval da cristandade na concepção da relação Igreja-Estado, e na afirmação da independência e supremacia do poder espiritual. Contudo, essas alegações teocráticas não eram hierárquicas e impessoais como na Igreja medieval; baseavam-se em um profundo individualismo, resultante da certeza da eleição e do dever do indivíduo de cooperar na realização da intenção divina frente a um mundo hostil e pecador.
Assim, pois, o puritanismo era aristocrático e democrático ao mesmo tempo: Aristocrático, na medida em que os “santos” eram uma seleta minoria escolhida dentre a massa da humanidade caída, e infinitamente superiores aos filhos deste mundo; mas democrática, já que cada um era diretamente responsável ante Deus, que “não faz acepção de pessoas”.
A própria desumanidade disfarçada do puritanismo, proposta como “super-naturalismo” e imposta politicamente na Nova Inglaterra, produziu um efeito contrário ao esperado: em seu horror, afastou os homens de Deus. O conservadorismo inglês, profundamente arraigado, impediu inconscientemente aos puritanos reconhecerem esse efeito explicitamente.
Em mudança, seguiram apelando a Deus, e empregando terminologia cristã ainda quando apresentavam idéias não cristãs, e desse modo ocultaram – ou não deram-se conta – sua própria apostasia. Desta maneira, o puritanismo foi convertido na fé secular da América do Norte.
Dado que os homens estão fundamentalmente sozinhos em seu contado e sua resposta a Deus, no plano divino não há espaço para a sociedade, suas instituições e autoridades, especialmente estando todas as obras do homem radicalmente viciadas. O puritanismo terminou necessariamente pregando um individualismo “atomizante”. O indivíduo deve confiar só em si mesmo para conduzir sua própria vida e alcançar seus objetivos. No estado atual da humanidade talvez devesse existir uma “igreja” e certa forma de organização social por razões práticas e identificatórias, mas estes são somente instrumentos de um agregamento democrático de crentes e totalmente independentes. As instituições seculares representam uma interferência em sua vida; como tais, são apenas toleradas, e todo trato com elas deve ser evitado como se fosse uma praga, exceto nos termos fixados por cada um.
A dicotomia entre um Deus perfeito e um homem absolutamente corrompido pois em questão a verdade e o valor da Encarnação e da Redenção, e colocou Deus definitivamente mais além do alcance humano. A confiança transcendental em Deus foi substituída por uma imóvel confiança na capacidade do homem para conseguir seus próprios fins, e estes fins, destituídos de transcendência, foram necessariamente reduzidos por uma visão “intramundana”, essencialmente, a prosperidade material.
O abismo existente entre o criador e a criatura – que eles aprofundaram – fez com que os puritanos se relacionassem com o mundo em um sentido novo: pelo lado puramente terreno da natureza. Deus criou o mundo livre e gratuitamente, totalmente distinto de sua própria divindade infinita.
Portanto, esse mundo agora pode ser tomado e analisado, não conforme a participação que este havia atribuído em padrões divinos e estáticos, mas sim de acordo com seus próprios e distintos processos dinâmicos materiais, independentemente de referências diretas a Deus e sua realidade transcendental. Em uma reação pendular, uma vez que a natureza foi arrancada da tutela de Deus, o medo frente a ela e ansiedades de transcendência conduziram ao florescimento da bruxaria.
OS PURITANOS
Esta parte radical do protestantismo teve origem na Inglaterra Pós-Reforma, durante o reinado de Elisabete I.
Crenças e Características
* O princípio central do puritanismo era a autoridade suprema de Deus sobre assuntos humanos; para alguns, tal autoridade se expressava pelo grau de predestinação ensinado por João Calvino, embora nem todos compartilhassem dessa visão;
* Os puritanos enfatizavam que o indivíduo devia ser convertido pela graça de Deus. Cada pessoa, com que Deus demonstrava misericórdia, devia compreender a sua própria falta de valor e confiar que o perdão que está em Cristo lhe havia sido dado, e assim, por gratidão, deveria seguir uma vida humilde e obediente;
* Ênfase no estudo privado da Bíblia;
* Desejo de que todos alcancem educação e esclarecimento (Especialmente para que todos possam ler a Bíblia por si mesmos);
* Propiciavam o sacerdócio de todos os crentes.
* Grande simplicidade na adoração, traduzida na exclusão das vestes sacerdotais, imagens, velas, etc.•;
* Não comemoravam feriados tradicionais, sustentando que violavam os princípios regulares de adoração;
* Guardar obrigatoriamente o dia da Ressurreição de Jesus, o Domingo.•;
* Alguns aprovavam a hierarquia da Igreja, enquanto outros procuravam reformar as igrejas episcopais ao modelo presbiteriano;
Alguns puritanos separatistas eram presbiterianos, mas em sua maioria eram congregacionalistas;
Ao fim do século XIX, enquanto Leão XIII elogiava os esforços da Igreja na América do Norte, recordava a sua hierarquia que a situação particular de sua Igreja e seu estado florescente não deviam levar a conclusão que “o modelo ideal da situação da Igreja tinha que ser encontrada na América do Norte ou que é universalmente legal e conveniente que a política e a religião sejam desvinculados e separados, ao estilo americano”. Na verdade, mais além de suas realizações atuais, “dará mais e melhores frutos se, além da liberdade, desfrutar do poder das leis e da proteção do poder público”. Logo depois, mais concretamente na carta “Testem Benevolentie” dirigida ao Cardeal James Gibbons, Leão XIII condenou o erro denominado “americanismo”, que teve origem com o padre Isaac Hecker, ativamente promovida por alguns padres franceses na França, e aparentemente foi espalhando-se entre os norte-americanos.
“Americanismo” não deve ser confundido, é claro, com o amor legítimo ao país, o qual nos exige a lei divina. Em termos de erro sobre a doutrina católica, foi e continua sendo uma transposição do “espírito” não católico nascido do âmbito secular à esfera religiosa do catolicismo.
Assim pois, o “americanismo” pregava a necessidade de adaptar a Igreja à moderna e progressista civilização norte-americana. Preconizava, por conseguinte, a adoção do princípio de liberdade, uma vez que a ênfase católica “europeia” sobre a subordinação do indivíduo à autoridade era “estranha” ao temperamento do povo americano. Especificamente, considerava que a democracia era a forma de governo mais adequada ao Cristianismo, e propunha que o equilíbrio entre a autoridade e a liberdade alcançada na Constituição norte-americana fossem adotados pela Igreja enfatizando a iniciativa individual, sob a direção do Espírito Santo e a limitação da autoridade externa. No que diz respeito às relações entre Igreja e Estado, disse que o modelo americano não era apenas uma solução razoável, devido a certas circunstâncias, mas o mais desejável para o mundo.
Esta tendência tem se tornado uma constante na história americana católica. Charles Carrol de Carollton, o signatário católico da Declaração de Independência, disse que ao fazê-lo, o fez “tendo em vista não só a independência da Inglaterra senão também a tolerância a todas as seitas que professam o cristianismo, conferindo-lhes os mesmos direitos .” John Carroll, seu irmão, primeiro bispo de Baltimore, também acreditava na liberdade religiosa, que ele considerou uma “benção e um benefício”, e um direito natural, mas não uma concessão política. Consequentemente só tinha elogios para com o sistema político americano de separação entre Igreja e Estado. Em 1830, o monsenhor John England (bispo de Charleston) mostrou seu apreço por todas as coisas americanas através da adoção de uns estatutos para o governo de sua diocese. Monsenhor England ignorou sem mais a “Mirari Vos” de Gregório XVI, declarando que a condenação da liberdade religiosa não se referia à América do Norte.
Da mesma forma, Monsenhor Martin Spalding (Bispo de Baltimore) disse em 1865 que o “Syllabus”de Pio IX estava se referindo apenas ao “falso liberalismo europeu”, e certamente não tinha nada a ver com a América. Em 1857 o padre Hecker “expressou que estava <<a favor da civilização americana, com seus usos e seus costumes >> porque << é o único meio pelo qual o catolicismo pode se tornar a religião do nosso povo. >>”. Prenunciou que para o êxito do experimento democrático necessitava-se de uma única religião, uma só Igreja, e que somente se “os americanos se fizessem católicos, então os católicos confirmariam as reivindicações da democracia e as fariam suas; assim, o reino de Deus estaria à mão.”
Em questões relativas à doutrina da fé, o “americanismo” foi até os extremos da adaptação para não ofender os protestantes. Em 1858, Mons. John McCloskey (bispo de Albano), que mais tarde se tornou o primeiro cardeal americano, considerou “inoportuna” a declaração do dogma da Imaculada Conceição e que podia ferir a sensibilidade protestante, em consequência, se negou a difundir a doutrina em sua diocese… O “americanismo” estava pronto a esconder ou diluir um dos mais característicos e essenciais dogmas católicos como uma estratégia de proselitismo. Como afirmava o padre Hecker, a apologética deve “expor as necessidades do coração e buscar seus próprios objetos, ao invés de (apresentar) uma lógica da igreja.”, o que é, na verdade, modernismo puro.
Em relação à vida moral e espiritual de um católico comum, o “americanismo” exaltou a superioridade das virtudes naturais e “ativas” em detrimento da sobrenatural e “passiva”, e transferindo o ideal político à esfera espiritual, pregava que o Espírito Santo guiava imediatamente os indivíduos, sem intermediação de direção espiritual externa .
Finalmente, o “americanismo” aceita como fato irrevogável do “destino manifesto” do país a noção puritana de que a América é o “povo escolhido”, e a ampliou para incluir a Igreja americana.
A condenação fulminada por Leão XIII constituiu o último estágio da disputa que dividiu a hierarquia americana a respeito de como salvaguardar o catolicismo no país, já que existiam inegáveis perigos para seu futuro.
Para os imigrantes, que representavam a massa do povo católico na América – e não “a antiga pátria” deixada para sempre – proporcionou o marco para suas vidas e o futuro. No entanto, alguns bispos perceberam imediatamente que no processo de integração, os imigrantes também absorveram o secularismo americano e o irresistível desejo de riqueza material, ambos profundamente anticatólicos, corruptos e corruptores; enquanto se “americanizavam”, os filhos e netos dos imigrantes abandonavam a fé…
Além disso, a recusa clara de integrar-se na sociedade americana implicava na alternativa insustentável de formações de guetos étnico-religiosos, como foi acontecendo com a existência de sobreposição de paróquias nacionais. Além disso, foi necessário combater a propaganda protestante, que tinha os católicos como “estrangeiros”, estranhos à população americana, promovendo projetos vergonhosos para o país, o que propiciou ataques à pessoas e propriedades dos católicos.
Por isso, outros bispos insistiam que quanto mais rapidamente os católicos se integrassem na vida americana, tanto melhor, não apenas por causa de sua própria paz e prosperidade, senão também para a paz na Igreja. No entanto, os promotores de tal integração foram muito além da prudência necessária; seu “desejo de ‘integrar-se’ à vida americana levou-os a não considerar os perigos de desertar da fé (…) Ao mostrar seu ‘patriotismo’, começou a abraçar a ‘religião’ dos Estados Unidos, e (…) finalmente, a adoção desta falsa religião ‘patriótica’ levou-os a acomodar o catolicismo com as exigências da cultura pluralista insípida que os rodeava.”
Gibbons e seu partido estavam convencidos de que o mundo entrou numa nova era de democracia, individualismo, atividades e exigências sociais e que esse novo mundo americano encarnava o futuro. Se a Igreja quisesse sobreviver, teria que adaptar-se “deixando princípios que não se pode defender e assumindo novas atitudes em função das novas condições”.
Eles também foram persuadidos de que a responsabilidade de conduzir (a Igreja) por este caminho recaía sobre a Igreja americana”. Em suma, acreditavam firmemente em uma versão católica do “destino manifesto”da América.
A verdadeira natureza do erro condenado continuou sendo nebulosa para a maioria dos católicos americanos. Aqueles que pudessem ser suspeitos de aderir a ele, negavam veementemente que algo como o censurado “americanismo” houvesse jamais existido na América. Mons. Ireland reclamou que a doutrina do padre Hecker e as conquistas americanas tinham sido mal interpretadas e distorcidas por alguns sacerdotes franceses exaltados. Alguns anos mais tarde, refletindo sobre a crise, um autor a chamou de “heresia fantasma”. A estratégia de negação, que logo se empregaria contra a condenação do modernismo, começava desde então a ser aperfeiçoada…
No caso do “americanismo”, no entanto, além da indubitável deslealdade de alguns bispos, é provável que haja outros fatores. O “americanismo” nunca foi apresentado como um sistema doutrinário, quer dizer, como uma síntese de princípios, razões e conclusões. Consistiu só em razões concretas, certamente manchadas de naturalismo e liberalismo, mas ainda assim capaz de ser rejeitada ou julgada amavelmente como imprudência ou excesso de zelo. Na verdade, o “americanismo” só atraiu a atenção de Roma em 1897, quando o padre Felix Klein traduziu a biografia de Walter Elliot sobre o padre Hecker. Na edição de Klein, as soluções práticas americanas foram expressas em princípios teóricos. Como inimigo do “americanismo”, o padre Charles Maignen observou que “quando um erro chega à França, ele torna-se claro e preciso”. Sendo “empreendedores” pragmáticos e com aversão profunda à teorias abstratas, os bispos norte-americanos não estavam habituados a ver suas realizações concretas traduzidas nos princípios abstratos que a inspiravam, e portanto, pareciam incapazes de identificá-los quando foram expostos. Daí a veemência da sua recusa por parte da hierarquia americana.
E esta negação pareceu surtir efeito. Não se tomaram medidas disciplinares e toda a alusão ao “americanismo” desapareceu pouco depois. Em maio de 1900, Mons. Ireland poderia escrever com confiança de Roma: “O Papa me disse que o documento sobre o ‘americanismo’ deveria ser esquecido, pois aplica-se somente a algumas dioceses da França”.
Apesar de Leão XIII condenar os erros que foram apresentados, apontou também que a condenação não poderia estender-se a “aos estatutos políticos, às leis e aos costumes pelos quais são governados”. Como quando ordenou a adesão dos católicos franceses à maçônica Terceira República Francesa, o Papa tinha uma visão idealista e equivocada das realidades políticas envolvidas, unidas a um espírito pacífico e a um otimismo infundado. Enganado pelas afirmações dos bispos americanos, ignorava a verdadeira natureza do espírito secularista americano e sua estruturação institucional.
Fonte:
https://www.fsspx.com.br/liberdade-religiosa-parte-iv-a-gestacao-do-espirito-americano/
https://www.fsspx.com.br/liberdade-religiosa-parte-v-a-heresia-norte-americana/
"O JARDIM DAS HERESIAS" - OLAVO DE CARVALHO
Excertos
do livro Jardim das Aflições do Sr. Olavo de Carvalho, onde ele defende dentre outras
cousas, a impossível e herética aliança entre o "Cristianismo" e a maçonaria:
SEGUE O LINK DA VERSÃO QUE FOI UTILIZADA:
https://www.dropbox.com/s/qn2kdgkfz50ybhz/Jardim%20das%20Afli%C3%A7%C3%B5es%20-%20Olavo%20de%20Carvalho.pdf
[O tal filósofo que se diz católico, defende que os Estados Unidos é maior nação cristã do mundo, porém o protestantismo não é Cristão, mas sim uma heresia, e os EUA com o formato de nação atual foi fundado pela maçonaria. O maçom George Washington foi o primeiro presidente americano, iniciou o seu mandato em 1789 (mesmo ano em que financiou a maçônica – portanto anticatólica e sangrenta – Revolução Francesa).
Vejamos o que diz São Pio X no seu Catecismo sobre a heresia protestante:
"O Protestantismo ou religião reformada, como orgulhosamente a chamam seus fundadores, é o compêndio de todas as heresias que houve antes dele, que houve depois e que pode ainda nascer para a ruína das almas."]
<<< Início dos trechos do herético livro mencionado: >>>
[...] O cristianismo, de fato, não quis destruir o Império, mas não podia submeter-se a ele; nem quis restaurá-lo, mas não podia subsistir e expandir-se senão sob a proteção dele. René Guénon, que sempre deve ser ouvido nessas matérias, explica o fenômeno dizendo que o cristianismo não tinha, originariamente, o espírito de uma lei religiosa, no sentido judaico ou islâmico de uma regra para a ordenação do mundo, mas o de um esoterismo, de um caminho puramente interior: “Meu reino não é deste mundo.” A exoterização do cristianismo, sua transformação numa lei religiosa para o conjunto da sociedade, teria sido causada por circunstâncias externas: a decadência da religião romana e do judaísmo deixavam o mundo greco-romano praticamente sem qualquer lei religiosa — e o cristianismo, mesmo a contragosto, mesmo ao preço de trair em parte sua vocação interiorizante, teve de preencher providencialmente uma lacuna que ameaçava alargar-se num abismo e engolfar a civilização. O cristianismo salva o mundo antigo, absorvendo-o num novo quadro, mas, para isso, tem de se deixar absorver nele e transformar-se, mediante adaptações bastante deformantes, numa nova Lei exterior, na religião do Império.
Não precisamos endossar por completo a tese de Guénon para admitir o fato patente de que o cristianismo, malgrado sua imensa força de renovação espiritual, não estava muito bem dotado para reorganizar a sociedade civil e política. No Evangelho não se encontra uma indicação, uma linha, uma palavra sequer a respeito da organização política e econômica, da moral exterior, do direito civil e penal, como se encontram com abundância na Torah, no Corão ou nas Escrituras hindus. O cristianismo era essencialmente uma “via de salvação”, que voltava as costas para este mundo, concentrando todos os esforços na busca da Cidade Celeste. Para transformar-se numa força organizadora da Cidade Terrestre, ele teve de sofrer adaptações que arriscaram deformá-lo profundamente. Não existe, em toda a História das Religiões, outro caso de uma moral religiosa que tenha passado por tantas mudanças e transformações. A moral social cristã, com efeito, não emerge pronta e óbvia da letra das escrituras, como a islâmica ou a judaica, mas se elabora aos poucos, ao fio de tremendas disputas dialéticas, por obra dos teólogos e dos concílios, crescendo, não como a progressão linear de uma simples dedução lógica, mas como um organismo vivente, entre dores e contradições. [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 180, 3ª Edição)]
[...] Tudo isso mostra a profunda inadaptação do cristianismo à missão reguladora e civilizadora de que foi incumbido pelo desenrolar dos fatos. Entre a inadaptação congênita e a força da obrigação externa, o resultado foi duplo: de um lado, um esforço milenar e repetidamente fracassado para erguer um Império cristão, unificando o Ocidente. Com efeito, no Ocidente só existiu império cristão, no sentido mundial, durante o reinado de Carlos Magno. No restante da história européia o Império é apenas uma ideia unificadora, pairando no abstrato sobre um caos de principados e ducados perpetuamente em guerra uns com os outros. De outro lado, e em função mesma do fracasso do Império, surge a transformação do papado num poder temporal concorrente, com todo o seu cortejo de conseqüências nefastas. A principal, evidentemente, foi a mundanização do culto, o rebaixamento da moral cristã a um receituário de exterioridades tão opressivo e falso quanto o moralismo estatal romano, a cristalização progressiva da doutrina num formalismo lógico-jurídico deprimente e, por via de conseqüência, a politização completa da religião na época pós-renascentista, como um conservadorismo monárquico, de início, que aos poucos iria se transformando no seu contrário: num ativismo republicano, liberal e socialista. [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 181, 3ª Edição)]
[...] Se a autoridade espiritual é em tese superior ao poder terreno pela mesma razão que faz o espírito superior à força bruta, em que medida a Igreja de Roma, representada pelo seu Papa, era pura autoridade espiritual? Não era também ela um poder temporal, contaminado portanto de força bruta? Em que medida a pesadíssima organização diplomática, política e burocrática de Roma é movida pelo sopro do Espírito ou pelo entrechoque mecânico das forças deste mundo, tal como a política dos reinos e dos impérios? [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 200, 3ª Edição)]
[...] A verdadeira unidade da Igreja, por isto, nunca residiu na força monolítica da administração central romana, mas, precisamente ao inverso, na floração espontânea da santidade nos lugares mais imprevisíveis e mais afastados de todo contato com a burocracia vaticana. Mas essa unidade permanece profunda, latente, oculta: quando se manifesta à luz do reconhecimento público, é para cristalizar-se na forma de um domínio teocrático que, impondo seu jugo sobre o poder mundano, logo se rompe sob a pressão da rebelião aristocrática e monárquica. [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 200, 3ª Edição)]
[...] Em primeiro lugar, a religião do Novo Mundo é maçônica. Todos os signatários da Declaração da Independência, sem exceção, pertencem a alguma loja maçônica. Desse momento em diante, ninguém, mas absolutamente ninguém faz carreira política nas três Américas sem ter de entrar para a Maçonaria, prestar satisfações à Maçonaria ou enfrentar a Maçonaria. O fato é demasiado notório para que seja preciso demonstrá-lo. A carreira de Fernando Henrique Cardoso — o político ruim de voto que, recebendo a iniciação maçônica, em poucos anos chega à presidência vencendo a candidatura aparentemente imbatível de Luís Inácio Lula da Silva — ilustra-o novamente. Só que, entre apóstolos e adversários dessa organização, mais são os interessados em mistificar do que em esclarecer o seu papel na história espiritual da humanidade. Entre os primeiros, a mistificação toma a forma de especulações fantásticas sobre a antiguidade maçônica — abusando de analogias que são tomadas por identidades históricas — e de um jogo duplo na ocultação-revelação do papel desempenhado pela entidade nos lances decisivos da História: os projetos de risco são ocultados sob o manto da discrição, quando não da secretude, mas, a posteriori, tudo aquilo que dá certo é atribuído à ação genial da Maçonaria. [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 213, 3ª Edição)]
[...] Pelo lado adversário, há evidente mistificação em interpretar toda a simbólica maçônica, inclusive a das iniciações de ofícios, no sentido de um anticristianismo rasteiro sugerido pelas falas de próceres maçônicos de uma época muito posterior; há engano, ou má-fé, em atribuir à ação maçônica no mundo uma unidade de intenções e de estratégia; há engano e má-fé em explicar todo o enfraquecimento do espírito cristão no mundo como efeito de uma conspiração maçônica. O primeiro desses três erros, movido por um intuito de interpretar as coisas preconceituosamente, mutila e comprime a linguagem simbólica num unidimensionalismo que nada poderia justificar. O segundo negligencia o curso freqüentemente caótico, múltiplo e incontrolável que assumem os empreendimentos secretos, principalmente quando atravessam as gerações e os séculos e não têm, a resguardar-lhes a continuidade e a unidade, senão a força sutil e às vezes apenas simbólica dos egregoroi, que um rito basta para desfazer em fumaça. O terceiro omite o fato, historicamente comprovado, de que a própria Maçonaria foi alvo de conspirações, divisões e ataques de organizações ainda mais secretas, que pretenderam usá-la para fins diversos, e de que dentro dessas mesmas organizações, por sua vez, surgiam conspirações e segredos, numa pirâmide invertida onde a treva mais densa assombrava e governava a menos densa... Enfim, a ideia mesma de conferir a uma sociedade secreta a unidade doutrinal e administrativa de uma Igreja é de um ridículo sem par. O secreto não age, historicamente, em linha reta, mas pela eficácia do caos, da divisão e da suspeita que afeta aqueles mesmos que o servem. Empreendimentos como o de Mons. Dupanloup, por exemplo, que tentam ciscar nas palavras dos próceres maçônicos os elementos com que possam compor uma doutrina maçônica, para em seguida melhor combatê-la no campo dos argumentos lógicos, são inteiramente infrutíferos, ainda que filosoficamente respeitáveis; pois a doutrina assim encontrada é apenas uma dentre muitas possíveis; é, na melhor das hipóteses, a doutrina dominante na Maçonaria de uma dada época, pronta a ceder lugar a outra na época seguinte. O grande reformador maçônico do século XX, René Guénon, encontrou a organização num estado de vácuo doutrinal, que uma profusão de ritos e símbolos, aliada a uma retórica sufocante, só bastava para disfarçar ante os intelectos menos exigentes. Guénon preenche esse vácuo com a mais densa metafísica. Bem, ao maçonismo guénoniano os argumentos de Mons. Dupanloup já nada têm a opor [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 214, 3ª Edição)]
[...] O crescimento da Maçonaria no século XVIII, a Revolução Francesa e o nascimento do Império Americano não marcam assim a extinção do poder aristocrático, mas uma gigantesca reciclagem da casta aristocrática. É essa reciclagem que inaugura propriamente os tempos modernos, o mundo de hoje. Ela define-se pelos seguintes traços: 1ª Substituição das antigas aristocracias de sangue pela nova aristocracia iniciática. 2ª Caráter secreto ou pelo menos discreto do novo poder aristocrático. 3ª Formidável concentração do poder do dominador, aliada a uma não menos formidável expansão dos direitos nominais do dominado. [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições (pg. 215, 3ª Edição)]
[...] Mas os Estados Unidos são o primeiro país cujos governantes são todos ou quase todos maçons, e onde, não havendo oficialmente religião protegida pelo Estado, a situação de facto é: governo maçônico. E governo maçônico quer dizer o seguinte: todos os conflitos abertos, todas as disputas políticas travadas diante do público, que constituem a pulsação mesma da vida democrática, não são senão a exteriorização de divergências nascidas e elaboradas dentro da Maçonaria. A espuma democrática encobre e disfarça a luta interna no seio de uma nova aristocracia, cuja unidade espiritual repousa nas mãos de um novo sacerdócio. Logo em seguida, quando o Brasil imitar o exemplo norte-americano e proclamar sua independência da Europa, a vida parlamentar do Império não consistirá de outra coisa senão de debates entre maçons, cujas divergências se erguiam sobre o fundo comum de um pacto de lealdades secretas. São maçons os conservadores, são maçons os liberais, é maçom o Imperador, são maçons os agitadores republicanos. Pairando invisivelmente sobre todas as forças em luta, a Maçonaria sai vencedora em qualquer hipótese. Muito mais que o Imperador, ela é o verdadeiro “poder moderador” — a autoridade espiritual que acolhe em seu seio maternal os partidos em disputa e unge a fronte do vencedor com o óleo bento da legitimidade. É um simplismo grosseiro, portanto, atribuir à Maçonaria a responsabilidade pelos movimentos revolucionários, porque ela não se compromete com aqueles a quem auxilia, do mesmo modo que a Igreja medieval não se comprometia em conflitos dinásticos: sua função é eclesial, não real ou imperial. Como a Igreja, ela dá nascimento a uma aristocracia, a uma casta governante, e, sem mesclar-se diretamente no governo deste mundo, influencia decisivamente o curso das coisas, ensinando, orientando, estimulando, conciliando ou dividindo, e equilibrando enfim — ao menos idealmente — o movimento do conjunto. O que a diferencia da Igreja é menos a sua ideologia — vaga, indefinida e elástica o bastante para comportar todos os arranjos e acomodações — do que a sua invisibilidade. Quaisquer que fossem as intenções de seus fundadores, o advento do governo maçônico nas Américas abre uma nova etapa na História do mundo: a era do segredo. Daí por diante, a democratização progressiva das instituições, que é o aspecto mais patente da evolução política mundial, correrá parelha com o aumento incalculável da influência das organizações secretas, sobretudo das organizações estatais secretas do século XX ¾, que neutralizará os efeitos da democratização para reduzi-la a pouco mais que uma distribuição de doces para aplacar criancinhas zangadas. [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições (pg. 218, 3ª Edição)]
[...] Ora, qual o legado dessa Revolução ao mundo? A democracia? Não pode ser, visto que ela convive perfeitamente bem com ditaduras, quando lhe interessa, e visto que a subsistência de uma aristocracia maçônica associada de perto a uma oligarquia econômica é um dos pilares mesmos do sistema norte-americano. O capitalismo liberal? Também não, porque o próprio sistema norte-americano, através da expansão do assistencialismo estatal, acabou por assimilar várias características da socialdemocracia. O republicanismo? Não, porque os elementos democráticos e igualitários da ideologia norte-americana que se espalharam pelo mundo puderam, sem traumas, ser incorporados por antigas monarquias tornadas constitucionais, como a Inglaterra, a Dinamarca, a Holanda, a Espanha. Dos vários componentes da ideologia revolucionária norte-americana, o único que foi assimilado integralmente, literalmente e sem alterações por todos os países do mundo foi o princípio do Estado leigo. Se é verdade que “pelos frutos os conhecereis” ou que as coisas são em essência aquilo em que enfim se tornam, a Revolução Americana só é democrática, republicana e liberal-capitalista de modo secundário e mais ou menos acidental: em essência, ela é a liquidação do poder político das religiões, a implantação mundial do Estado sem religião oficial. [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições (pg. 224, 3ª Edição)]
[...] Mas será, por outro lado, adequado dizer que o Estado norte-americano é leigo, é agnóstico, é indiferente em matéria de religião? Pois não acabamos de ver que é um Estado maçônico? Que a Maçonaria, formando as consciências de seus membros através de ritos e símbolos, exerce rigorosamente a função de direção espiritual? Que a aristocracia maçônica é encimada por uma casta sacerdotal que arbitra em última instância as lutas políticas sem nelas se imiscuir diretamente? O Estado leigo tem religião, sim. Só que é um esoterismo ao qual não corresponde, no andar de baixo da sociedade, nenhum exoterismo em particular, porque, no novo quadro, a função de exoterismo, ou religião popular, é exercida por toda a pululação de religiões e seitas em disputa. Judaísmo e cristianismo, islamismo e budismo tornaram-se aí meras “seitas populares”, ao lado do espiritismo e da teosofia, da New Age e da ufologia, todas niveladas e integradas na grande liturgia da religião civil, umas a contragosto, outras de bom grado, outras ainda sem terem a menor ideia de a quem servem. Acima de todas elas paira, invisível e onipotente, a Religião do Império, perpetuada no culto discreto oficiado por uma nova casta sacerdotal colhida nos escalões superiores da aristocracia maçônica. [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições (pg. 227, 3ª Edição)]
[...] No romance de Goethe, à medida que Wilhelm supera a revolta juvenil para integrar-se no mundo real como cidadão educado e prestativo, a sociedade se revela como um microcosmo à imagem do universo dirigido por potências benévolas. A extraordinária beleza desta imagem da ordem universal não deve porém fazer-nos esquecer que nela se trata apenas daquilo que se chama uma iniciação de “Pequenos Mistérios”, isto é, a revelação da ordem histórico-cósmica; e que tão logo os Pequenos Mistérios se fazem passar por uma finalidade em si mesmos, se tornam um entrave ao desenvolvimento espiritual do homem, barrando-lhe o acesso aos “Grandes Mistérios” onde a ordem cósmica é transcendida pelo conhecimento do infinito e do divino. Ora, a maçonaria, como todas as demais vias espirituais originadas em iniciações de ofícios, é em essência uma iniciação de Pequenos Mistérios, e só conserva seu sentido quando integrada no corpo de uma tradição espiritual maior, capaz de absorver o conhecimento dos mistérios cósmicos como uma etapa transitória no caminho para o conhecimento de Deus. E o que caracteriza de maneira mais enfática o período aqui mencionado é precisamente a ruptura entre os Pequenos e os Grandes Mistérios, a tentativa de fazer da iniciação histórico-cósmica a etapa terminal do sentido da vida, de barrar ao homem o acesso ao infinito e aprisioná-lo na dimensão terrestre. [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições (pg. 230, 3ª Edição)]
[...] É altamente significativo que Goethe, tendo vivenciado a ruptura maçônica com a tradição cristã e se tornado o porta-voz por excelência da ideologia histórico-progressista, sentisse de maneira mais ou menos obscura, durante toda a sua vida madura, a insuficiência espiritual dos Pequenos Mistérios e buscasse insistentemente uma perspectiva espiritual mais elevada. Dividido entre o impulso espiritual e a rejeição maçônica do cristianismo, ele não viu outra saída senão buscar a espiritualidade superior numa tradição religiosa vizinha: o Islam. Os temas da espiritualidade islâmica, aprendidos na devotada leitura dos grandes poetas e pensadores místicos persas e árabes, são uma presença constante na lírica goetheana. Em conversações privadas, Goethe manifestou várias vezes sua apreciação pelo profeta Mohammed, que chegou a tomar por tema de uma peça, infelizmente não concluída. A consideração de uma possível “saída islâmica” para o conflito pressagia, com um século e meio de antecedência e em escala pessoal, a formulação do drama Ocidental que viria a ser dada por René Guénon. De acordo com Guénon, a civilização do Ocidente, se não conseguisse reunificar Maçonaria e Cristianismo — Pequenos e Grandes Mistérios —, restaurando o corpo cindido da espiritualidade tradicional, não teria alternativa senão cair na barbárie ou islamizar-se. Como ambas estas últimas tendências não cessaram de se fortalecer nas décadas que transcorreram desde o diagnóstico guénoniano — sendo as marcas da barbárie ascendente tão pronunciadas quanto a expansão islâmica nos países europeus e mesmo nos Estados Unidos —, não se sabe aí o que é mais notável: a exatidão da profecia do grande asceta francês ou sua antecipação na alma do poeta alemão (Goethe). [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 231, 3ª Edição)]
O Olavo declara, na nota 189, que não é "nem maçom, nem antimaçom". [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 253, 3ª Edição)]
[...] 7. A Igreja, ao pretender fundar um Império, caiu na armadilha da restauração romana, ajudando a alimentar o monstro imperial que viria a devorá-la. 8. A restauração do Império romano, sob formas variadas e adaptadas às condições do tempo, é a meta que norteia, de maneira semiconsciente, a história política do Ocidente, marcada por quatro grandes empreendimentos: o Império de Carlos Magno; o Sacro Império Romano de Otto I; a emergência dos impérios coloniais; o império leigo (fracassado em versão napoleônica, mas bem-sucedido na América). 9. O surgimento dos impérios coloniais estilhaça a unidade cristã; o que restar de cristianismo será destruído pelo império leigo. Junto com o cristianismo, as demais religiões serão rebaixadas a “cultos permitidos”, funcionando como seitas populares no novo quadro do Império leigo. 10. A ruptura do sentido cristão da vida dá surgimento às duas correntes de idéias — naturalistas e historicistas — cujo entrechoque constituirá o Leitmotiv da história cultural moderna, ajudando a consolidar o culto das divindades cósmicas — naturais e sociais — que constituem em substância a religião estatal do Novo Império. 11. A Revolução Americana que incorpora o ideal do império leigo tende a mundializar-se, arrastando na sua torrente todas as forças intelectuais e políticas que, de uma forma ou de outra, acabam por colocar-se involuntariamente a seu serviço. Ela intervém decididamente e a fundo na estrutura da alma de todos os seres humanos colocados ao seu alcance, instaurando neles novos reflexos, novos sentimentos, novas crenças que constituirão, em essência, a cultura pós-cristã, ou mais claramente: anticristã. [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 265, 3ª Edição)]
[...] Os neoliberais têm toda a razão em apontar os Estados Unidos como um exemplo de que a democracia capitalista é – para dizer o mínimo – o menos inviável dos sistemas políticos. Mas os méritos do sistema norte-americano não são devidos à ideia democrática enquanto tal, nem muito menos ao capitalismo como tal, mas ao fato de que uma e outro, para absorver e neutralizar hegelianamente o cristianismo na nova sociedade que geraram, tiveram de cristianizar-se ao menos em parte. Os valores cristãos, profundamente arraigados na mentalidade popular, serviram constantemente de balizas que limitavam e disciplinavam os movimentos do Estado e do mercado, dando um sentido ético e até espiritual ao que por si não tem nenhum; e, como o discurso político era fatalmente interpretado e julgado em função desses valores, mesmo o político que não acreditasse neles, mesmo o maçom de estrita observância, tinha de proceder exteriormente como cristão. Com extrema freqüência acabava por vigorar na prática o princípio católico – “age como se tivesses fé e a fé te será dada” –, e o cristianismo de mera pose acabava por dar aos atos políticos um sentido e um efeito cristãos de pleno direito. [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 278, 3ª Edição)]
[...] Ao mesmo tempo, é notório que o credo americano – democracia, lei e ordem, voto, liberdade de imprensa etc. – só aos poucos e graças a esforços prodigiosos de gerações de propagandistas se disseminou entre populações que, muito antes, já traziam o cristianismo no sangue, pois descendiam do primeiro povo cristão da Europa. Era, assim, fatal que as idéias democráticas recebessem espontaneamente uma interpretação cristã, o que terminou por fazer dos Estados Unidos essa contradição viva: um Estado leigo maçônico, onde uma elite de céticos e inimigos da fé governa a maior população cristã do mundo. [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 279, 3ª Edição)]
[...] A heterogeneidade essencial das forças que compunham o ideal americano – maçonismo e cristianismo – pôde ser ocultada por um tempo, precisamente pela mesma razão que permitiu a Abraham Lincoln passar em público por grande líder cristão: pela razão de que seus intuitos (em si mesmo nem cristãos nem anticristãos, mas, digamos assim, extracristãos) foram aceitos na medida em que o povo os interpretava como cristãos e acabava por cristianizá-los. Na medida em que o ideal maçônico do Estado leigo democrático se realiza, ele se assume como independente do cristianismo e, na mesma proporção, põe à mostra suas próprias fraquezas e contradições. Ele prega, por exemplo, que devemos respeitar a vida humana como um bem sagrado, ao mesmo tempo que ensina nas escolas que ela não é senão o resultado fortuito de uma combinação de átomos; que as diferentes culturas devem ser preservadas em sua pureza, contanto que consintam em perder toda importância vital e em tornar-se adornos turísticos para embelezar a cultura maçônico-democrática; que o homem tem o direito de cultuar Deus à maneira de sua religião, contanto que coloque acima desse Deus as leis e instituições do Estado leigo; que a liberdade sexual é um direito inalienável, contanto que os homossexuais não pratiquem sodomia e os heterossexuais não façam propostas eróticas às mulheres; e assim por diante, numa permanente estimulação contraditória que está na raiz da violência e da loucura que hoje marcam a sociedade americana e todas as sociedades que se colocaram sob a órbita da influência ideológica da Revolução Americana. Muitos analistas do fenômeno americano já estão se dando conta de que a democracia depende de que existam no povo certas virtudes que ela não criou nem pode criar, mas que recebeu prontas da civilização cristã e que não sobrevivem à descristianização da sociedade. [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 280, 3ª Edição)]
[...] Se hoje não podemos desistir nem do Estado democrático nem do fundo cristão sem o qual ele perde todo sentido e se transforma no neototalitarismo do “politicamente correto”, e se por outro lado a dinâmica anticristã do Estado leigo parece uma fatalidade inerente à constituição mesma do novo Império, isto mostra o que foi dito parágrafos acima, que a ruptura entre Maçonaria e Cristianismo está na raiz da tragédia contemporânea. [...] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 282, 3ª Edição)]
<<< Final dos trechos do herético livro mencionado! >>>
ABAIXO TRECHOS DAS BULAS PAPAIS QUE CONDENAM A MAÇONARIA E INCLUSIVE A APROXIMAÇÃO DE CATÓLICOS COM OS MAÇONS:
"[...] Por conseguinte, tendo em mente o grande prejuízo que é muitas vezes causado por essas Sociedades ou Convenções não só para a paz do Estado temporal, mas também para o bem-estar das almas, e percebendo que eles não possuem, por qualquer das sanções civis ou canônica; e uma vez que Nós somos inspirados pela palavra divina que é a parte do fiel servo e do comandante da casa do Senhor para assistir dia e noite o açoite de tais homens contra o lar agindo como ladrões e, como raposas que procuram destruir a vinha; de fato, para evitar que os corações dos simples sejam pervertidos e os inocentes sejam feridos secretamente por suas flechas e para bloquear a ampla estrada que poderia ser aberta para a ação de pecado e pelas justas e razoáveis motivações conhecidas por Nós; e por isso, depois de ter tomado conselho de alguns de nossos Veneráveis Irmãos entre os Cardeais da Santa Igreja Romana, e também de nossa própria reflexão a partir de certos conhecimentos e de madura deliberação, com a plenitude do poder apostólico, que decidimos fazer e decretar que estas mesmas Sociedades, Companhias, Assembléias, Reuniões, Congregações,ou Convenções de Liberi Muratori ou de Franco-Maçons, ou de qualquer outro nome que estas possam vir a possuir, estão condenadas e proibidas, e por Nossa presente Constituição, válida para todo o sempre, condenadas e proibidas.
Deste modo, Nós ordenamos precisamente, em virtude da santa obediência, que todos os fiéis de qualquer estado, grau, condição, ordem, dignidade ou preeminência, seja esta clerical ou laica, secular ou regular, mesmo aqueles que têm direito a menção específica e individual, sob qualquer pretexto ou por qualquer motivo, devam ousar ou presumir o ingresso, propagar ou apoiar estas sociedades dos citados Liberi Muratori ou Franco-maçons, ou de qualquer outra forma como sejam chamados, recebê-los em suas casas ou habitações ou escondê-los, associar-se a eles, juntar-se a eles, estar presente com eles ou dar-lhes permissão para se reunirem em outros locais, para auxiliá-los de qualquer forma, dar-lhes, de forma alguma, aconselhamento, apoio ou incentivo, quer abertamente ou em segredo, direta ou indiretamente, sobre os seus próprios ou através de terceiros; nem a exortar outros ou dizer a outros, incitar ou persuadir a serem inscritos em tais sociedades ou a serem contados entre o seu número, ou apresentar ou a ajudá-los de qualquer forma; devem todos (os fiéis) permanecerem totalmente à parte de tais Sociedades, Companhias, Assembleias, Reuniões, Congregações ou Convenções, sob pena de excomunhão para todas as pessoas acima mencionadas, apoiadas por qualquer manifestação, ou qualquer declaração necessária, e a partir da qual ninguém poderá obter o benefício da absolvição, mesmo na hora da morte, salvo através de Nós mesmos ou o Pontífice Romano da época.
Além disso, Nós desejamos e ordenamos que todos os bispos e prelados, e outras autoridades locais, bem como os inquisidores de heresia, investiguem e procedam contra os transgressores, independentemente da situação, grau, condição, ordem de dignidade ou preeminência que venham a ter; e que venham a perseguir e punir a todos com as sanções competentes da mais alta suspeição de heresia. Para cada um destes e a todos destes Nós concedemos e garantimos a livre faculdade de solicitar o auxílio do braço secular, em caso de necessidade, para investigar e proceder contra aqueles mesmo transgressores e para persegui-los e puni-los de acordo com as competentes sanções.
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(Bula “In Eminenti Apostolatus Specula” do Papa Clemente XII de 1738)
"[...] “Na verdade, cada um de vocês conhece bem a natureza e as intenções de seitas, seja chamada Maçonaria ou algum outro nome. Quando se compara a natureza, propósito e amplitude do conflito travado em quase toda parte contra a Igreja, não se pode duvidar que a atual calamidade deve ser atribuída, na maior parte, às suas astúcias e maquinações. É através dessas sinagogas de Satanás que eles estabelecem sua forças, aperfeiçoam seus métodos e se juntam a batalha contra a Igreja de Cristo.” ... “Uma vez que essas coisas são assim, veneráveis irmãos, aplique todo o seu esforço para proteger os fiéis comprometidos com isso contra todas as armadilhas e contágio dessas seitas. Assim, traga de volta aqueles que infelizmente se juntaram a estas seitas. Exponha especialmente o erro daqueles que foram enganados ou aqueles que afirmam agora que as intenções dessas associações obscuras são só os trabalhos sociais, o progresso e o exercício de benefícios mútuos. Explique a eles a importância dos decretos pontificais que tratam desse assunto. Ensine-lhes também que estes decretos não se referem apenas aos grupos maçônicos da Europa, mas também aos da América e outras regiões do mundo.”
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(Bula “Etsi Multa Luctuosa” do Papa Pio IX de 1873).
"[...] Em primeiro lugar, arrancai à Maçonaria a máscara com que ela se cobre, e fazei-a ver tal qual é. Em segundo lugar, por Vossos discursos e por Cartas pastorais especialmente consagradas a esta questão, instruí Vossos povos; fazei-lhes conhecer os artifícios empregados por essas seitas para seduzir os homens e atraí-los às suas fileiras, mostra-lhes a perversidade das suas doutrinas e a infâmia dos seus atos. Lembrai-lhes que, em virtude das sentenças várias vezes proferidas pelos Nossos predecessores, nenhum católico, se quiser permanecer digno do seu nome e ter da sua salvação o cuidado que ela merece, sob qualquer pretexto, pode filiar-se à seita dos maçons. Que ninguém, pois, se deixe enganar por falsas aparências de honestidade.
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(Bula “Humanum Genus” do Papa Leão XIII de 1884).
LISTA COM 20 DOCUMENTOS PAPAIS CONDENANDO A MAÇONARIA:
- “In Eminenti Apostolatus Specula” do Papa Clemente XII de 1738;
- “Provida Romanorum Pontificum” do Papa Bento XIV de 1751;
- “Ecclesiam A Jesu Christo” do Papa Pio VII de 1821;
- “Quo Graviora Mala” do Papa Leão XII de 1826;
- “Litteris Altero” do Papa Pio VIII de 1830;
- “Mirari Vos” do Papa Gregório XVI de 1832;
- “Qui Pluribus” do Papa Pio IX de 1846;
- “Quibus Quantisque Malis” do Papa Pio IX de 1846;
- “Apostolicae Sedis Moderationi” do Papa Pio IX de 1869;
- “Quamquam Dolores” do Papa Pio IX de 1873;
- “Etsi Multa Luctuosa” do Papa Pio IX de 1873;
- “Exortae in ista” do Papa Pio IX de 1876;
- “Etsi Nos” do Papa Leão XIII de 1882;
- “Humanum Genus” do Papa Leão XIII de 1884;
- “Officio Sanctissimo” do Papa Leão XIII de 1887;
- “Dall'alto dell'Apostolico Seggio” do Papa Leão XIII de 1890;
- “Inimica Vis” do Papa Leão XIII de 1892;
- “Custodi di quella Fede” do Papa Leão XIII de 1892;
- “Praeclara Gratulationis Publicae” do Papa Leão XIII de 1894;
- “Annum Ingressi” do Papa Leão XIII de 1902.